O outro lado do silêncio
Sábios, filósofos e poetas têm, desde a Antiguidade, exaltado o valor
positivo do silêncio. Têm repetido, sempre, que o silêncio é bom e que sua
prática deve ser cultivada, sendo seu exercício
constante alcançado somente pelas mentes mais iluminadas e equilibradas.
"O silêncio vale ouro!" aprendemos com os mais antigos. E o som dessa verdade ainda ecoa dentro de
nós.
Quem sou eu, em minha humilde existência e parco entendimento, para
contestá-los! Porém, nos últimos tempos, tenho refletido demais sobre tal
premissa. Vejo que ela pode ser verdadeira, mas não absoluta. Depende muito do
caso e da ocasião. O silêncio, por si só e em si mesmo, não é bom e nem
ruim Pode tornar-se bom e aconselhável em determinadas
situações. Em outras, não. Muitas e muitas vezes, ele pode ser ruim e ter
efeito tão destruidor, tão devastador, quanto as palavras mal ditas.
Determinados silêncios, ferem mais do que mil palavras, queimam mais do que
fogo e cortam mais do que navalha. Pois, ao contrário de revelarem equilíbrio,
podem sugerir descaso e indiferença. Algumas pessoas agridem com o silêncio. É
como se dissessem ao outro: “Fala, que eu respondo com meu calar. Reclama, que
respondo com minha indiferença, muda, silenciosa, que é minha forma mais sutil,
porém não menos cruel, de deboche e desprezo.”
E se essa não era a intenção da atitude, como saber, pois se o que escutamos é só o silêncio? E o que dizer do silêncio da omissão? Nenhum
objeto ou substantivo é sagrado ou profano por definição. Tudo depende do uso
que fazemos deles. O que ocorre com as palavras, ocorre também com o silêncio.
Ele pode ser prudente, mas pode ser insano ou incauto. Pode abrandar, mas
também pode agredir. O silêncio que foge do diálogo, do esclarecimento, da
discussão, da busca do entendimento é, no mínimo, medroso. Aqueles que fazem
apologia ao silêncio em qualquer situação adversa, no fundo, é um ser omisso,
que não sabe ou tem medo de se mostrar pelas palavras e, através delas, buscar
um melhor entendimento de si e do outro. Por isso, o silêncio pode se converter
na melhor (pior) arma dos covardes, que nunca querem correr o risco de se
expor. Se calam. Não se mostram. E, pior ainda, acusam de descontrolados e
imprudentes os outros, que se arriscam a fazê-lo. Bendito descontrole! Bendita
imprudência! Que eu nunca a perca, meu Deus! Que eu nunca me cale. Que eu
aprenda a ser cada vez mais prudente com minhas palavras, mas que eu nunca as
troque pelo silêncio. Que eu nunca me anule, escondida sob um silêncio
pseudo-equilibrado. Que eu conserve sempre a coragem de abrir meu peito, meu
coração, minhas emoções, meu contentamento e descontentamento através da
palavra, pois é a única forma mais eficiente que disponho no momento de mostrar
ao outro quando me fez feliz e quando me feriu. E é a única forma, também, de
saber onde e quando errei e como posso acertar da próxima vez. Que eu não
morra, meu Deus, entalada com minhas mágoas e situações mal resolvidas. Nem
ignore as insatisfações alheias, pela falta do diálogo e pela prática descabida
e excessiva do silêncio. Que todos possamos nos entender pela fala, pelo
diálogo, e não nos afastemos pela
comodidade insossa do silêncio. Que possamos discernir entre o silêncio bom e o
ruim. Que possamos nos lembrar sempre que, como as palavras, o silêncio também
pode se converter em arma letal e capaz de impedir ou destruir uma convivência
harmoniosa.
Ana Marta
Fonte da matéria:
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