ROSA PARKS E O CANSAÇO DE
CEDER
Fonte:
http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=6372&cod_canal=47
Era o fim de um dia de
trabalho em Montgomery, Alabama, em dezembro de 1955. No espaço do ônibus onde
era permitido aos negros sentar-se, a costureira Rosa Parks acomodou seu corpo
ativo e seu rosto sereno de quarenta e dois anos, preparando-se para chegar à
casa e encontrar o marido.
Um homem branco entrou no
ônibus e não tinha onde sentar-se. O motorista removeu o sinal que designava o
espaço concedido aos negros dentro do veículo e ordenou que quatro deles se
levantassem a fim de que o passageiro branco pudesse acomodar-se. Três deles se
levantaram. Rosa Lee Parks não se moveu de onde estava. Em seu rosto sereno
havia uma clara e sólida determinação: não conceder mais uma vez.
Ao recordar o incidente que
mudou sua história, a de sua gente e a de seu país, Rosa contava: “Quando ele
me viu ainda sentada, perguntou-me se eu ia levantar-me e eu disse: Não, não
vou”. E ele afirmou: “Bem, se você não se levantar, eu terei de chamar a polícia
e prendê-la”. Eu respondi: “ Pode fazer isso”. Ao explicar a motivação de seu
ato explícito de desobediência, Rosa dizia: “As pessoas sempre dizem que eu não
dei meu lugar porque estava cansada, mas não é verdade. Eu não estava cansada
fisicamente, ou mais cansada do que habitualmente estava após um dia de
trabalho. Eu não era velha… tinha 42 anos. Não, eu só estava cansada de sempre
conceder”.
Rosa foi presa, julgada e
condenada por conduta desordeira, assim como por violar a ordem local. Foi, além
disso, multada em 14 dólares. Na noite seguinte à sua prisão, cinqüenta líderes
da comunidade afro-americana, chefiados pelo então quase desconhecido pastor
protestante Martin Luther King Jr. reagiram à violência cometida contra Rosa
Parks, organizando e deflagrando um boicote de 381 dias ao sistema
segregacionista de ônibus do Alabama. A firme determinação de uma mulher
deflagrou um movimento de protesto e luta dos negros norte-americanos contra a
segregação e pelo respeito aos direitos, do qual a estrela foi o Pastor Martin
Luther King Jr., que se tornou um ícone da luta pelos direitos civis nos
Estados Unidos e ganhou o Prêmio Nobel da Paz anos depois. Sempre reconhecido
àquela que havia sido o agente detonador do movimento de luta pelos direitos
dos negros nos Estados Unidos, Martin Luther King Jr. dizia sobre seu gesto:
“Na verdade, ninguém pode compreender a ação da Sra. Parks, a menos que realize
que eventualmente a taça da capacidade de suportar transborda e a personalidade
humana grita: “Eu não posso mais agüentar”.
Em 1956, o caso Rosa Parks foi
encerrado na Suprema Corte norte-americana e a segregação entre brancos e
negros nos ônibus declarada inconstitucional. Em 1957, depois de ter perdido o
emprego e recebido ameaças de morte, Rosa e seu marido, Raymond, se mudaram
para Detroit, onde ela trabalhou como assistente no escritório de John Conyers,
um congressista democrata. Seu ex-chefe dá testemunho sobre a extraordinária
personalidade de Rosa: “Ela era muito humilde, falava baixinho. Mas por dentro
tinha uma determinação feroz”. Rosa trabalhou para o político como
recepcionista no período de 1965 a 1988. “Ela tinha qualidades de uma santa”,
acrescentava.
No último dia 26 de outubro, a
suave guerreira, que com seu simples gesto libertou todo um povo, faleceu em
sua residência de Detroit, Michigan. Morreu dormindo, certamente sonhando o
sonho que sempre foi seu: viver em uma sociedade livre e igualitária. Aquela
que se recusou a cumprir a ordem de levantar-se de seu lugar para perpetuar a
injustiça do ”apartheid” racista repousa agora na paz da vida em plenitude.
Enquanto isso, sua memória é marco obrigatório de encorajamento para todos os
que sonham e lutam por um mundo mais humano.
Em recente viagem à África do
Sul, o reverendo Jesse Jackson, um dos principais defensores dos direitos civis
nos Estados Unidos, enalteceu a figura de Rosa Parks, recordando que seu ato
aparentemente simples forçou os negros americanos a “se levantarem” pelos seus
direitos. “Ela forçou o resto de nós a nos levantarmos.
Foi um esforço consciente de
uma lutadora pela liberdade”, disse Jackson, durante entrevista coletiva em
Johannesburgo. Ele se referiu a Rosa como uma “mulher de grande coragem, que
conscientemente arriscou sua vida e enfrentou a prisão para romper com o
sistema do apartheid”.
Mãe da luta pelos direitos
civis americanos, a figura de Rosa Parks brilha fulgurante diante de nossos
olhos, cada vez que preferimos a comodidade de conceder ao risco de protestar e
lutar contra as injustiças que enchem o mundo em que vivemos.
***
Rosa Louise McCauley, mais
conhecida por Rosa Parks (Tuskegee, 4 de fevereiro de 1913 – Detroit, 24 de
outubro de 2005), foi uma costureira negra norte-americana, símbolo do
movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Ficou famosa, em 1º
de dezembro de 1955, por ter-se recusado frontalmente a ceder o seu lugar no
autocarro a um branco, tornando-se o estopim do movimento que foi denominado
Boicote aos Autocarros de Montgomery e posteriormente viria a marcar o início
da luta antissegregacionista.