quarta-feira, 13 de março de 2013


O outro lado do silêncio

Sábios, filósofos e poetas têm, desde a Antiguidade, exaltado o valor positivo do silêncio. Têm repetido, sempre, que o silêncio é bom e que sua prática deve ser cultivada, sendo seu exercício  constante alcançado somente pelas mentes mais iluminadas e equilibradas. "O silêncio vale ouro!" aprendemos com os mais antigos.  E o som dessa verdade ainda ecoa dentro de nós.
Quem sou eu, em minha humilde existência e parco entendimento, para contestá-los! Porém, nos últimos tempos, tenho refletido demais sobre tal premissa. Vejo que ela pode ser verdadeira, mas não absoluta. Depende muito do caso e da ocasião. O silêncio, por si só e em si mesmo, não é bom e nem ruim  Pode  tornar-se bom e aconselhável em determinadas situações. Em outras, não. Muitas e muitas vezes, ele pode ser ruim e ter efeito tão destruidor, tão devastador, quanto as palavras mal ditas. Determinados silêncios, ferem mais do que mil palavras, queimam mais do que fogo e cortam mais do que navalha. Pois, ao contrário de revelarem equilíbrio, podem sugerir descaso e indiferença. Algumas pessoas agridem com o silêncio. É como se dissessem ao outro: “Fala, que eu respondo com meu calar. Reclama, que respondo com minha indiferença, muda, silenciosa, que é minha forma mais sutil, porém não menos cruel, de deboche e desprezo.”  
E se essa não era a intenção da atitude, como saber,  pois se o que escutamos é só o silêncio?  E o que dizer do silêncio da omissão? Nenhum objeto ou substantivo é sagrado ou profano por definição. Tudo depende do uso que fazemos deles. O que ocorre com as palavras, ocorre também com o silêncio. Ele pode ser prudente, mas pode ser insano ou incauto. Pode abrandar, mas também pode agredir. O silêncio que foge do diálogo, do esclarecimento, da discussão, da busca do entendimento é, no mínimo, medroso. Aqueles que fazem apologia ao silêncio em qualquer situação adversa, no fundo, é um ser omisso, que não sabe ou tem medo de se mostrar pelas palavras e, através delas, buscar um melhor entendimento de si e do outro. Por isso, o silêncio pode se converter na melhor (pior) arma dos covardes, que nunca querem correr o risco de se expor. Se calam. Não se mostram. E, pior ainda, acusam de descontrolados e imprudentes os outros, que se arriscam a fazê-lo. Bendito descontrole! Bendita imprudência! Que eu nunca a perca, meu Deus! Que eu nunca me cale. Que eu aprenda a ser cada vez mais prudente com minhas palavras, mas que eu nunca as troque pelo silêncio. Que eu nunca me anule, escondida sob um silêncio pseudo-equilibrado. Que eu conserve sempre a coragem de abrir meu peito, meu coração, minhas emoções, meu contentamento e descontentamento através da palavra, pois é a única forma mais eficiente que disponho no momento de mostrar ao outro quando me fez feliz e quando me feriu. E é a única forma, também, de saber onde e quando errei e como posso acertar da próxima vez. Que eu não morra, meu Deus, entalada com minhas mágoas e situações mal resolvidas. Nem ignore as insatisfações alheias, pela falta do diálogo e pela prática descabida e excessiva do silêncio. Que todos possamos nos entender pela fala, pelo diálogo, e não nos afastemos  pela comodidade insossa do silêncio. Que possamos discernir entre o silêncio bom e o ruim. Que possamos nos lembrar sempre que, como as palavras, o silêncio também pode se converter em arma letal e capaz de impedir ou destruir uma convivência harmoniosa.
Ana Marta

Fonte da matéria:
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