sexta-feira, 3 de maio de 2013



Me pego olhando para trás.
Vão me chamar de louco e insano. Contraditório aos poetas e intelectuais que brindam o carpe diem, vivendo de presentes para futuros, afogando as vivências passadas.
Eu não. Eu vivo de passado!
Não nele, mas dele. De seus ensinamentos.
Toco minhas próprias feridas, estudo as minhas vitórias.
Sou crítico da minha vida, pois não há outra forma de me assumir, de ser convicto.
Estou buscando o passado. Revendo cada lugar, cada detalhe, cada deslize, cada acerto.
São eles que me formam. Meu passado sou eu.
Não dá pra ser hoje, sem antes ter sido ontem.
Eu venho crescendo e me formando com o tempo.
E tudo que vivi, realizei e presenciei somam o resultado do que tenho construído.
Que bom que caí, que chorei, que me cansei.
Que bom que tive ganhos, acertos, alegrias.
O sabor do hoje está no ontem.
Se hoje eu estou sorrindo, quero aumentar meu riso lembrando que as outras lágrimas se foram.
E quando choro, quero ter a certeza de que sobrevivo. E poder chorar de novo é um sinal de sobrevivência.
Quero sentir o cansaço de minhas pernas lembrando que é resultado das minhas corridas divertidas, e da minha juventude apressada, mas que sempre entendeu a urgência das minhas jovens necessidades.
Quando me pego olhando para trás, afogo em mim mesmo. Releio-me. Descubro-me.
Vou me conhecendo e reconhecendo, pouco a pouco. Investigando meus atos, refletindo os caminhos pelos quais me levei.
Quero saber por onde eu vim, e trazer a certeza do lugar para o qual desejei ir. Pois, se eu não lá chegar, saberei por onde voltar, e como reaproveitar tudo o que já caminhei.
Sou formado de mim mesmo. Dos meus pedaços de vida. Dos meus passados.
O meu hoje, amanhã será ontem. E o que estou sendo agora também me incorporará.
Dizem eles (eles sim, insanos poetas), aos quatro ventos, que eu deveria me focar no hoje, que é mais certo que o futuro, e deixar para trás o passado.
Mas, esquecem-se que hoje eu não seria nada sem o meu ontem.
Não quero esquecer o passado.
Não quero deixar para trás.
Tenho-o carregado comigo, sob pena de sofrer um vazio irreparável de inexistência.
Olhando para trás, aprendo comigo mesmo. Sou eu o meu melhor professor.
Pois eu que conheço o peso de cada riso e cada lágrima na minha formação. Somente eu posso afirmar com certeza, ainda que vulnerável - mas contra mim incontestável, o que me é intimo, o que sou eu.
Olhando para trás, eu me desejo. E me direciono.
Eu vivo mesmo é de passado.

Paulo Henrique Silva Almeida

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