Como
lidar com o idoso portador de Alzheimer?
Psicóloga dá dicas
Escrito por Luciene Corrêa Miranda
Qua, 11 de Janeiro de 2012 13:58
A doença de
Alzheimer constitui-se numa das maiores preocupações a respeito das doenças que
atingem as pessoas mais idosas. Mas o que é esta doença? Quais suas
características principais? Como ela avança? Existe cura ou tratamento? Atinge
apenas pessoas idosas? Este artigo visa esclarecer essas e mais algumas dúvidas
comuns.
A doença de
Alzheimer foi descrita pela primeira vez na década de 1900, quando o Dr. Alois
Alzheimer identificou os sintomas da doença em uma paciente que tinha
aproximadamente cinquenta anos de idade. Desde essa época outros pacientes
foram diagnosticados com os mesmos sintomas e em todos, ao se realizar autópsia
do tecido cerebral, podia-se observar uma grande diminuição no volume do
cérebro – diminuição maior do que aquela que acontece com o envelhecimento
normal. Atualmente, com o advento de novas técnicas de investigação
diagnóstica, já foi possível identificar também a presença de algumas placas
anormais que se depositam no cérebro do doente, impossibilitando a comunicação
entre as células cerebrais – os neurônios – e, consequentemente, promovendo a
morte das mesmas. Mesmo com todo o avanço nas pesquisas dessa área, até hoje, a
única forma de se garantir o diagnóstico da doença é após o óbito do paciente,
com a autópsia do tecido cerebral, mas alguns exames ajudam no diagnóstico,
como uma ressonância magnética do cérebro (para constatar a redução do volume
cerebral), a avaliação neuropsicológica e o relato dos familiares a respeito
das alterações observadas.
É uma doença
crônica (de longa duração), progressiva (os sintomas vão se agravando com o
passar do tempo), incurável (existem apenas tratamentos paliativos), que afeta
a cognição do portador, ou seja, interfere nos processos básicos relacionados
ao pensamento: a memória, a atenção, o julgamento moral, a linguagem, a
inteligência, a criatividade, dentre outras instâncias indispensáveis a uma forma
de viver com autonomia e independência. Seu aparecimento está diretamente
associado com a idade, ou seja, a maior probabilidade de se desenvolver a
doença se dá nas pessoas mais idosas, mas há relatos de pessoas mais jovens
portadoras da doença. Ainda não se sabe exatamente quais as causas da doença,
mas já foi comprovado que há um componente genético e que se manter
intelectualmente ativo pode ser um fator de proteção.
A doença
costuma ser dividida em três fases: inicial, intermediária e avançada. Normalmente,
quem percebe os sintomas iniciais da doença, que a princípio são discretos, são
membros da família e pessoas que convivem diariamente com o paciente. Com o
passar das fases, os sintomas vão se tornando nítidos e muitas pessoas ainda
reagem com medo, estranheza ou deboche frente aos sintomas.
A fase
inicial caracteriza-se por distração, pequenos lapsos de memória, dificuldade
para lembrar nomes, palavras e aprender coisas novas, desorientação, alterações
de humor (apatia, irritabilidade, dentre outras mudanças). Caso percebam
algumas dessas alterações em um idoso conhecido, procure orientação médica
(geriatra ou neurologista) o mais rápido possível.
Já a fase
intermediária é caracterizada por perda aparente da memória e das funções
cognitivas, diminuição da verbalização, alterações de comportamento bruscas e
marcantes, alucinações, incapacidade de convívio social, risco de perder-se
devido à crescente desorientação, não havendo condições de viver de forma
independente. Nesta fase o cuidador deve ficar atento para que o paciente não
fuja; é muito comum o portador da doença falar que "quer ir embora"
de sua própria casa, pois ele apresenta um quadro de desorientação tão intenso
que ele não se lembra de sua própria casa. O paciente não tem mais condições de
tomar decisões importantes, principalmente do ponto de vista jurídico. O
cuidador precisa também se proteger, pois alguns pacientes podem partir para a
agressão física contra as pessoas mais próximas. Importante destacar que esta é
uma reação característica da doença, não uma questão pessoal do idoso contra o
cuidador.
Na última
fase, os sintomas agravam-se consideravelmente e o portador da doença torna-se
totalmente dependente do cuidador, até nas atividades mais simples para a sua
sobrevivência, como alimentar-se e cuidar de sua higiene pessoal. A fala
torna-se monossilábica e tende a desaparecer por completo. O paciente precisa
usar fraldas geriátricas, pois perde o controle da bexiga e do intestino. Na
maioria dos casos, perde a capacidade de deambulação e fica a maior parte do
tempo acamado. Pode começar a apresentar dificuldades para engolir e precisa
ser alimentado através de sondas. Com o agravamento do estado geral, o paciente
caminha para o óbito.
Durante todo
este percurso da doença, algumas complicações podem ocorrer, como, por exemplo,
os conflitos familiares, já que normalmente a família não quer aceitar a doença
ou não entra em acordo sobre quem irá cuidar do idoso dependente. Outros têm
medo de futuramente virem a passar pelo mesmo problema que seu genitor está
passando e entram em desespero. Outros não conseguem lidar com a finitude da
vida de seu familiar.
O portador
da doença de Alzheimer precisa de acompanhamento multidisciplinar: médico,
enfermeiro, psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, farmacêutico,
fonoaudiólogo, advogado, nutricionista, dentista, assistente social – todos
esses profissionais, dentro de sua área de saber, podem atuar visando à
promoção da saúde, à proteção contra a violência e os abusos aos quais os mesmos
são mais vulneráveis. O cuidador também precisa receber atenção
multidisciplinar e, principalmente, precisa do apoio da família. Caso o
cuidador não tenha condições de cuidar do portador da doença ou se a sua
residência não oferecer segurança para a permanência do idoso nessa situação,
uma boa alternativa é uma instituição de longa permanência para idosos, porém
tendo-se o cuidado de preservar os vínculos familiares.
Alguns
medicamentos utilizados no tratamento da doença de Alzheimer são disponibilizados
pela rede SUS e são um direito do paciente, cabendo ao cuidador, juntamente com
o médico, reivindicar pelos direitos daquele que não tem mais condições de
solicitar sozinho. Porém, é importante lembrar-se de que os remédios não vão
curar o paciente, nem mesmo fazer a doença estacionar, porém podem diminuir os
sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao portador e à sua família.
Programas que visam à estimulação ou reabilitação psicológica, realizados por
neuropsicólogos, têm demonstrado resultados satisfatórios no que diz respeito à
atenção, à memória, dentre outros processos cognitivos, porém também não curam
a doença.
Neste
momento faz-se urgente que as autoridades governamentais, em nível mundial,
dispensem financiamentos para fomentar pesquisas que investiguem a doença em
sua totalidade. Profissionais de áreas multidisciplinares devem estudar e
pesquisar mais sobre a doença, com ênfase especial à prevenção, às reais causas
e a tratamentos eficazes para os portadores. Devemos pensar que, a qualquer
momento, podemos estar direta ou indiretamente relacionados à doença: seja como
profissionais, seja como familiares de portadores, ou mesmo como futuros
potenciais portadores de uma doença grave e ainda bastante desconhecida.
Luciene Corrêa Miranda é psicóloga
clínica, mestre em Psicologia e professora na Escola de Enfermagem da Santa
Casa de Misericórdia de Juiz de Fora
FONTE:
http://idmed.uol.com.br/saude-do-idoso/como-lidar-com-o-idoso-portador-de-alzheimer-psicologa-da-dicas.html
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