Porque envelher
é viver...
Por Renata Stuart
É o meu aniversário. Sim, não
me importo em anunciar: Estou ficando mais velha hoje. Aliás, não só hoje,
todos os dias, fico um pouco mais velha. Sim, essa é uma das poucas certezas
que temos nessa vida. Todos (os que têm sorte), com o passar dos minutos, horas,
dias, semanas, meses, envelhecem. Acontece que apenas nos anos é que a gente se
lembra de celebrar isso.
E tudo ocorre de forma sutil,
a gente quase nem sente num período de curto prazo. Vamos apenas vivendo e
quando nos damos conta: Os anos se passaram. E, então, as marcas do tempo
começam a falar. Não falo apenas de rugas ou cabelos brancos, falo das cores,
gostos, sentimentos e sensações que ficam para trás, dando lugar a outros, nem
melhores, nem piores, mas diferentes. O calendário da vida passa pra todos.
Disso, não há como fugir.
Mas, calma, não quero fazer um
texto dramático sobre “como-o-tempo-voa” ou “a-idade-chega-para-todos”. Nada
disso. Pode continuar ai. Hoje, eu quero brindar a vida. Sim, acho justo!
Afinal, há exatamente 22 anos, eu nasci. Num mês frio, durante a madrugada, num
parto meio turbulento – sim, pois minha mãe visitou vááários hospitais naquela
noite em busca de um médico obstetra – eu vim ao mundo. E, já que estou aqui de
passagem, por que não comemorar essa deliciosa viagem que é a vida?
Não entendo bem porque as
pessoas têm tanta neura com idade. Envelhecer é algo inerente ao ser humano.
Estar velho ainda é estar vivo. Acho que isso deveria ser encarado como só mais
uma fase – natural e especial – da vida. Afinal, não é só você que está ficando
velho, mas todos da sua geração. E é hora de viver isso juntos, encarar a
situação de frente, assumir o tempo de cabeça erguida. Bom, não serei
hipócrita. Sinto saudades da minha infância, dos meus quinze anos e sei que, um
dia, vou sentir saudade dos 22. E quando
penso que estou próxima dos 30, então?! Sinto um friozinho na barriga como que
um misto de tristeza e ansiedade. Tristeza porque sei que terei deixado para
trás uma época memorável. A universidade, os amores mal resolvidos, aquela dose
de irresponsabilidade, o namoro, as primeiras conquistas, e a famosa “época de
arriscar”. Tudo isso vai passar, eu sei. E ansiedade porque sei que há uma
outra fase única me aguardando.
Mas é assim que tem que ser.
São essas velinhas que sopramos ao longo da vida que nos acrescentam algo como
pessoa. São os momentos vividos, experiências adquiridas e escolhas feitas que
dão o peso necessário à nossa bagagem. Tenho que prosseguir. E, se para correr
atrás dos meus sonhos ainda não alcançados, terei que continuar envelhecendo,
que venha o tempo, e que venham muitas velas para eu soprar, pois meus anseios
são muitos e tenho planos para um século. Já dizia minha bisavó: “Quem não quer
ficar velho, tem que morrer novo”.
É por isso que, hoje, eu só
quero sorrir para a vida. Sorrir para todos a minha volta e para mim mesma.
Sorrir como alguém que não tem a vida perfeita, mas como alguém que é feliz com
o que tem e com o que se tornou. Sorrir como quem é grata pela família
inigualável, pelo lar, pelos amigos verdadeiros e pelo amor companheiro. Sorrir
pelos abraços, beijos e palavras sinceras. Sorrir pela saúde, pela
determinação, pela esperança. Sorrir pelo maior presente que eu podia receber:
estar viva!
http://www.atelierdepalavras.com.br
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