quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


Como lidar com o idoso portador de Alzheimer?

Psicóloga dá dicas
Escrito por Luciene Corrêa Miranda
Qua, 11 de Janeiro de 2012 13:58

A doença de Alzheimer constitui-se numa das maiores preocupações a respeito das doenças que atingem as pessoas mais idosas. Mas o que é esta doença? Quais suas características principais? Como ela avança? Existe cura ou tratamento? Atinge apenas pessoas idosas? Este artigo visa esclarecer essas e mais algumas dúvidas comuns.

A doença de Alzheimer foi descrita pela primeira vez na década de 1900, quando o Dr. Alois Alzheimer identificou os sintomas da doença em uma paciente que tinha aproximadamente cinquenta anos de idade. Desde essa época outros pacientes foram diagnosticados com os mesmos sintomas e em todos, ao se realizar autópsia do tecido cerebral, podia-se observar uma grande diminuição no volume do cérebro – diminuição maior do que aquela que acontece com o envelhecimento normal. Atualmente, com o advento de novas técnicas de investigação diagnóstica, já foi possível identificar também a presença de algumas placas anormais que se depositam no cérebro do doente, impossibilitando a comunicação entre as células cerebrais – os neurônios – e, consequentemente, promovendo a morte das mesmas. Mesmo com todo o avanço nas pesquisas dessa área, até hoje, a única forma de se garantir o diagnóstico da doença é após o óbito do paciente, com a autópsia do tecido cerebral, mas alguns exames ajudam no diagnóstico, como uma ressonância magnética do cérebro (para constatar a redução do volume cerebral), a avaliação neuropsicológica e o relato dos familiares a respeito das alterações observadas.

É uma doença crônica (de longa duração), progressiva (os sintomas vão se agravando com o passar do tempo), incurável (existem apenas tratamentos paliativos), que afeta a cognição do portador, ou seja, interfere nos processos básicos relacionados ao pensamento: a memória, a atenção, o julgamento moral, a linguagem, a inteligência, a criatividade, dentre outras instâncias indispensáveis a uma forma de viver com autonomia e independência. Seu aparecimento está diretamente associado com a idade, ou seja, a maior probabilidade de se desenvolver a doença se dá nas pessoas mais idosas, mas há relatos de pessoas mais jovens portadoras da doença. Ainda não se sabe exatamente quais as causas da doença, mas já foi comprovado que há um componente genético e que se manter intelectualmente ativo pode ser um fator de proteção.

A doença costuma ser dividida em três fases: inicial, intermediária e avançada. Normalmente, quem percebe os sintomas iniciais da doença, que a princípio são discretos, são membros da família e pessoas que convivem diariamente com o paciente. Com o passar das fases, os sintomas vão se tornando nítidos e muitas pessoas ainda reagem com medo, estranheza ou deboche frente aos sintomas.

A fase inicial caracteriza-se por distração, pequenos lapsos de memória, dificuldade para lembrar nomes, palavras e aprender coisas novas, desorientação, alterações de humor (apatia, irritabilidade, dentre outras mudanças). Caso percebam algumas dessas alterações em um idoso conhecido, procure orientação médica (geriatra ou neurologista) o mais rápido possível.

Já a fase intermediária é caracterizada por perda aparente da memória e das funções cognitivas, diminuição da verbalização, alterações de comportamento bruscas e marcantes, alucinações, incapacidade de convívio social, risco de perder-se devido à crescente desorientação, não havendo condições de viver de forma independente. Nesta fase o cuidador deve ficar atento para que o paciente não fuja; é muito comum o portador da doença falar que "quer ir embora" de sua própria casa, pois ele apresenta um quadro de desorientação tão intenso que ele não se lembra de sua própria casa. O paciente não tem mais condições de tomar decisões importantes, principalmente do ponto de vista jurídico. O cuidador precisa também se proteger, pois alguns pacientes podem partir para a agressão física contra as pessoas mais próximas. Importante destacar que esta é uma reação característica da doença, não uma questão pessoal do idoso contra o cuidador.

Na última fase, os sintomas agravam-se consideravelmente e o portador da doença torna-se totalmente dependente do cuidador, até nas atividades mais simples para a sua sobrevivência, como alimentar-se e cuidar de sua higiene pessoal. A fala torna-se monossilábica e tende a desaparecer por completo. O paciente precisa usar fraldas geriátricas, pois perde o controle da bexiga e do intestino. Na maioria dos casos, perde a capacidade de deambulação e fica a maior parte do tempo acamado. Pode começar a apresentar dificuldades para engolir e precisa ser alimentado através de sondas. Com o agravamento do estado geral, o paciente caminha para o óbito.

Durante todo este percurso da doença, algumas complicações podem ocorrer, como, por exemplo, os conflitos familiares, já que normalmente a família não quer aceitar a doença ou não entra em acordo sobre quem irá cuidar do idoso dependente. Outros têm medo de futuramente virem a passar pelo mesmo problema que seu genitor está passando e entram em desespero. Outros não conseguem lidar com a finitude da vida de seu familiar.

O portador da doença de Alzheimer precisa de acompanhamento multidisciplinar: médico, enfermeiro, psicólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, farmacêutico, fonoaudiólogo, advogado, nutricionista, dentista, assistente social – todos esses profissionais, dentro de sua área de saber, podem atuar visando à promoção da saúde, à proteção contra a violência e os abusos aos quais os mesmos são mais vulneráveis. O cuidador também precisa receber atenção multidisciplinar e, principalmente, precisa do apoio da família. Caso o cuidador não tenha condições de cuidar do portador da doença ou se a sua residência não oferecer segurança para a permanência do idoso nessa situação, uma boa alternativa é uma instituição de longa permanência para idosos, porém tendo-se o cuidado de preservar os vínculos familiares.

Alguns medicamentos utilizados no tratamento da doença de Alzheimer são disponibilizados pela rede SUS e são um direito do paciente, cabendo ao cuidador, juntamente com o médico, reivindicar pelos direitos daquele que não tem mais condições de solicitar sozinho. Porém, é importante lembrar-se de que os remédios não vão curar o paciente, nem mesmo fazer a doença estacionar, porém podem diminuir os sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao portador e à sua família. Programas que visam à estimulação ou reabilitação psicológica, realizados por neuropsicólogos, têm demonstrado resultados satisfatórios no que diz respeito à atenção, à memória, dentre outros processos cognitivos, porém também não curam a doença.

Neste momento faz-se urgente que as autoridades governamentais, em nível mundial, dispensem financiamentos para fomentar pesquisas que investiguem a doença em sua totalidade. Profissionais de áreas multidisciplinares devem estudar e pesquisar mais sobre a doença, com ênfase especial à prevenção, às reais causas e a tratamentos eficazes para os portadores. Devemos pensar que, a qualquer momento, podemos estar direta ou indiretamente relacionados à doença: seja como profissionais, seja como familiares de portadores, ou mesmo como futuros potenciais portadores de uma doença grave e ainda bastante desconhecida.
  
Luciene Corrêa Miranda é psicóloga clínica, mestre em Psicologia e professora na Escola de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora

FONTE:
http://idmed.uol.com.br/saude-do-idoso/como-lidar-com-o-idoso-portador-de-alzheimer-psicologa-da-dicas.html

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