terça-feira, 24 de julho de 2012


 Velhice: Uma etapa da vida
 Psic. Simone Bracht

Hoje, aos 40 anos, sonho envelhecer com orgulho. Assim como disse Lya Luft no livro Perda e Ganhos, quero ser uma velha de espírito velho. Pois o espírito velho é mais sereno, elegante e sábio do que o jovem.

Tenho me perguntado por que as pessoas resistem à fase da vida que começa por volta dos 60 anos (segundo a OMS). Em geral, as pessoas com mais de 60 anos não gostam de ser chamadas de velhos ou de idosos e não gostam de ser percebidas como idosos. Lutam constantemente para parecerem jovens.

As pessoas com mais de 60 dizem que não se sentem bem ao serem chamadas de idosos ou de velhos. Dizem sentirem-se desvalorizadas, como um objeto velho que já não tem mais utilidade.  Sentem-se desrespeitadas e percebem uma carga de preconceito nestas palavras.

Mas porque não se sentir velho ou idoso? O que tem de ruim em ser um velho? Em que está o preconceito ou desvalorização? Nos mais jovens? Nos próprios idosos? Na sociedade como um todo?

Vivemos em uma sociedade voltada para a juventude. Apenas o que é novo é belo. E não estou falando apenas de pessoas, mas de objetos também. Apenas o que é novo e moderno é bom. Se a bateria do celular está gasta, não vale à pena trocar. Jogamos fora o aparelho e compramos outro, mais moderno, com câmera e acesso a internet. Roupa velha e confortável é só para usar em casa. Que mensagens são estas? Que velho é ultrapassado e descartável. Que só deve ficar em casa.  É nesta sociedade da novidade, dos lançamentos, da rapidez e da agilidade que nós temos que envelhecer aceitando nossas limitações e mudanças físicas. Aceitar o envelhecimento exige um alto grau de autoestima, para viver a velhice com satisfação.

Podemos ser velhos inteligentes, interessantes, esportistas, viajados, divertidos, com histórias para contar, com experiências para passar, com habilidades e felizes. É preciso entender que estas coisas não são possíveis apenas para os jovens. Ser velho ou idoso é uma etapa da vida na qual podemos ser muitas coisas. Não precisamos ser jovens para ser ou fazer o que queremos. Aliás, é muito mais fácil para um velho, com toda a sua experiência e maturidade escolher ser ou fazer o que quer. Os jovens, em geral, ainda precisam provar muitas coisas, para si próprios e para os outros, e nem sempre podem ser ou fazer o querem. 

O outro motivo pelo qual as pessoas se negam a envelhecer diz respeito à visão que temos de que ficar velho é acabar.  Velhice não é o fim. O fim é a morte. E para morrer, não é preciso estar velho, basta ter nascido. Então devemos viver esta etapa da vida como as outras, com planos de futuro, com amizades, família, quem sabe trabalho ou outras atividades que nos interessem.

Vamos fazer um breve balanço das etapas anteriores da vida. Quando somos bebês, não caminhamos e não falamos. São estas nossas desvantagens. Quando crianças, ouvimos não o tempo inteiro, não podemos dormir tarde, temos que obedecer nossos pais, então são estas as nossas desvantagens. Na adolescência temos inseguranças. Queremos crescer, mas temos medo da vida adulta. Estamos feiosos, desproporcionais e com espinhas. Na vida adulta nos falta tempo, nossa vida é cheia de preocupações. Temos que cumprir as regras sociais, bom emprego, casamento feliz, filhos bem educados, leitura e cinema em dia, e por aí vai.

A velhice é uma etapa da vida como as demais. Com coisas boas e ruins. Costumo dizer que velhice é coisa nova. Temos tido a oportunidade de ver na mídia reportagens sobre a longevidade e o aumento da expectativa de vida como algo novo. Sendo assim, a sociedade ainda não está pronta para entender a velhice como uma etapa da vida assim como a infância, a adolescência e a vida adulta. 

Há algumas décadas atrás a sociedade e as famílias precisavam se adaptar a novidade que era a mulher/mãe sair de casa para trabalhar. Hoje a sociedade e a família precisam se adaptar ao envelhecimento.

Ainda não sabemos com qual nome a sociedade e a ciência definirão esta etapa da vida. Hoje a sociedade chama de 3ª idade e a ciência denomina de idoso. O certo é que, independente do nome que será dado, ainda temos muito que aprender sobre esta etapa da vida e sobre como conviver e viver a velhice.

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