Velhice: Uma etapa da vida
Psic. Simone Bracht
Hoje, aos 40 anos, sonho
envelhecer com orgulho. Assim como disse Lya Luft no livro Perda e Ganhos,
quero ser uma velha de espírito velho. Pois o espírito velho é mais sereno,
elegante e sábio do que o jovem.
Tenho me perguntado por que as
pessoas resistem à fase da vida que começa por volta dos 60 anos (segundo a
OMS). Em geral, as pessoas com mais de 60 anos não gostam de ser chamadas de
velhos ou de idosos e não gostam de ser percebidas como idosos. Lutam
constantemente para parecerem jovens.
As pessoas com mais de 60
dizem que não se sentem bem ao serem chamadas de idosos ou de velhos. Dizem
sentirem-se desvalorizadas, como um objeto velho que já não tem mais
utilidade. Sentem-se desrespeitadas e
percebem uma carga de preconceito nestas palavras.
Mas porque não se sentir velho
ou idoso? O que tem de ruim em ser um velho? Em que está o preconceito ou
desvalorização? Nos mais jovens? Nos próprios idosos? Na sociedade como um
todo?
Vivemos em uma sociedade
voltada para a juventude. Apenas o que é novo é belo. E não estou falando
apenas de pessoas, mas de objetos também. Apenas o que é novo e moderno é bom.
Se a bateria do celular está gasta, não vale à pena trocar. Jogamos fora o
aparelho e compramos outro, mais moderno, com câmera e acesso a internet. Roupa
velha e confortável é só para usar em casa. Que mensagens são estas? Que velho
é ultrapassado e descartável. Que só deve ficar em casa. É nesta sociedade da novidade, dos
lançamentos, da rapidez e da agilidade que nós temos que envelhecer aceitando
nossas limitações e mudanças físicas. Aceitar o envelhecimento exige um alto
grau de autoestima, para viver a velhice com satisfação.
Podemos ser velhos
inteligentes, interessantes, esportistas, viajados, divertidos, com histórias
para contar, com experiências para passar, com habilidades e felizes. É preciso
entender que estas coisas não são possíveis apenas para os jovens. Ser velho ou
idoso é uma etapa da vida na qual podemos ser muitas coisas. Não precisamos ser
jovens para ser ou fazer o que queremos. Aliás, é muito mais fácil para um
velho, com toda a sua experiência e maturidade escolher ser ou fazer o que
quer. Os jovens, em geral, ainda precisam provar muitas coisas, para si
próprios e para os outros, e nem sempre podem ser ou fazer o querem.
O outro motivo pelo qual as
pessoas se negam a envelhecer diz respeito à visão que temos de que ficar velho
é acabar. Velhice não é o fim. O fim é a
morte. E para morrer, não é preciso estar velho, basta ter nascido. Então
devemos viver esta etapa da vida como as outras, com planos de futuro, com
amizades, família, quem sabe trabalho ou outras atividades que nos interessem.
Vamos fazer um breve balanço
das etapas anteriores da vida. Quando somos bebês, não caminhamos e não
falamos. São estas nossas desvantagens. Quando crianças, ouvimos não o tempo
inteiro, não podemos dormir tarde, temos que obedecer nossos pais, então são
estas as nossas desvantagens. Na adolescência temos inseguranças. Queremos
crescer, mas temos medo da vida adulta. Estamos feiosos, desproporcionais e com
espinhas. Na vida adulta nos falta tempo, nossa vida é cheia de preocupações.
Temos que cumprir as regras sociais, bom emprego, casamento feliz, filhos bem
educados, leitura e cinema em dia, e por aí vai.
A velhice é uma etapa da vida
como as demais. Com coisas boas e ruins. Costumo dizer que velhice é coisa
nova. Temos tido a oportunidade de ver na mídia reportagens sobre a longevidade
e o aumento da expectativa de vida como algo novo. Sendo assim, a sociedade
ainda não está pronta para entender a velhice como uma etapa da vida assim como
a infância, a adolescência e a vida adulta.
Há algumas décadas atrás a
sociedade e as famílias precisavam se adaptar a novidade que era a mulher/mãe
sair de casa para trabalhar. Hoje a sociedade e a família precisam se adaptar
ao envelhecimento.
Ainda não sabemos com qual
nome a sociedade e a ciência definirão esta etapa da vida. Hoje a sociedade
chama de 3ª idade e a ciência denomina de idoso. O certo é que, independente do
nome que será dado, ainda temos muito que aprender sobre esta etapa da vida e
sobre como conviver e viver a velhice.
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